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Brasil e Japão anunciam parceria para inovação na saúde pública em cerimônia na Japan House

| Andréa Xavier

Evento “Saúde Conectada e Inovação: Colaborações Brasil e Japão” celebra acordo entre o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e o Banco Interamericano de Desenvolvimento, com apoio do Japan Special Fund, para o codesenvolvimento e implementação de soluções tecnológicas que impactam a vida de pacientes no HC e contribuem para a redução da mortalidade materna e infantil.

O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, por meio do InovaHC – Núcleo de Inovações Tecnológicas -, firmou acordo de cooperação com o IDB Lab, braço de inovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com apoio do Japan Special Fund (JSF), para implementar um dispositivo tecnológico japonês que permite o rastreamento em tempo real do pré-natal e a detecção precoce de complicações durante a gestação, contribuindo para a redução da mortalidade materna e infantil.

Para celebrar a parceria, foi realizado no dia 21 de maio o evento “Saúde Conectada e Inovação: Colaborações Brasil e Japão”, na Japan House, em São Paulo. A iniciativa festejou os 130 anos das relações diplomáticas entre os dois países e buscou ampliar as oportunidades de colaboração entre atores públicos e privados para promover o desenvolvimento de soluções inovadoras na saúde.

O encontro contou com a presença do embaixador do Japão no Brasil, Hayashi Teiji; da chefe da Representação do BID no Brasil, Annette Bettina Killmer; da Secretária de Saúde Digital do Ministério da Saúde, Ana Estela Haddad; da Assessora de Gabinete da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, Cristina Balestrin; do CEO do HCFMUSP, Antonio Pereira (Tom Zé) ; do professor da FMUSP e presidente do InovaHC, Giovanni Cerri, entre outras autoridades e representantes do setor público e privado.

Durante a programação, Ana Estela Haddad apresentou a Estratégia de Saúde Digital para o Brasil. Também foram apresentados cases e soluções de inovação em saúde digital do Brasil e Japão, como o PDI Saúde Digital, OpenCare 5G, Interoperabilidade, Aldeia Em Foco, Open Ran, entre outros.

Além disso, houve o lançamento do Projeto VITAL, que consiste no uso de uma plataforma de telemonitoramento fetal com a introdução de um novo modelo de cardiotocografia móvel (iCTG) para gestantes de alto risco no Hospital das Clínicas e em locais remotos do país. O projeto marca o acordo de cooperação técnica e financeira entre o BID Lab e o InovaHC para testar e adaptar a solução da empresa japonesa Melody para uso no Sistema Único de Saúde (SUS).

“Essa parceria com o governo japonês permitirá avanços importantes na saúde de mães e bebês, em linha com as mudanças transformadoras que o BID, inclusive por meio do nosso braço de inovação, o BID Lab, tem apoiado na área social no Brasil. É parte central da nossa estratégia promover benefícios para os brasileiros, e poucas ações são tão poderosas como as que impulsionam a saúde desde a gestação”, afirmou a chefe da Representação do BID no Brasil, Annette Killmer.

Para o presidente do InovaHC, professor Giovanni Cerri, “o projeto representa, de forma concreta, o compromisso do InovaHC em promover a integração entre ciência, tecnologia e saúde pública, conectando o que há de mais inovador no mundo com as necessidades reais da nossa população. A colaboração com o BID Lab e a utilização de tecnologia japonesa de ponta são passos importantes na direção de um sistema de saúde mais equitativo, eficiente e conectado. Agradecemos aos parceiros envolvidos por compartilharem dessa visão e por confiarem no potencial do Brasil em liderar soluções inovadoras com impacto social.”

Agradecemos a mediação de Tuany Missine e a valiosa participação de Marcia Ogawa Matsubayashi, Caio Abujamra e Lindauro Junior , que enriqueceram profundamente as discussões sobre o Programa de Transformação Digital do Estado de São Paulo, as contribuições da indústria japonesa para a transformação digital no SUS, a atuação em regiões remotas por meio de tecnologias de ponta e a ampliação do acesso à saúde com soluções como OpenRAN e 5G. Como destacou a professora Rossana Pulcinelli , para promover transformações é fundamental ter vocação e domínio do conhecimento, além de resiliência para enfrentar os desafios.


Relações comerciais Brasil-Japão

No final de março, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou o Japão como convidado de Estado. Como resultado da visita, foi apresentado o “Plano de Ação para a Parceria Estratégica e Global Brasil-Japão (2025-2030)”, no qual ambos os países devem trabalhar nos próximos cinco anos. O plano enfatiza a importância do objetivo comum de Cobertura Universal de Saúde (UHC) e a continuidade da cooperação no setor de saúde, incluindo inovação em saúde digital, pesquisa e desenvolvimento em tecnologias, capacitação de profissionais de saúde, bem como troca de informações e conhecimentos. Espera-se que a cooperação entre os dois países seja ainda mais fortalecida.

No ano passado, as relações econômicas entre os países movimentaram US$ 11 bilhões em exportações, segundo relatório da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX), que aponta espaço para comercialização de produtos de maior valor agregado. O Japão se destaca como fornecedor de bens industriais e grande investidor, atingindo US$ 36,1 bilhões em 2023, o maior valor desde 2014. Empresas como Honda, Toyota, Sumitomo e Ajinomoto ampliaram suas operações no Brasil. A APEX registrou 40 projetos de investimento do Japão no Brasil, no valor estimado de US$ 2,5 bilhões, no período de janeiro de 2024 a março deste ano.


Inovação na saúde

De acordo com o Grupo Interinstitucional das Nações Unidas para Estimativa da Mortalidade Infantil (UN IGME), a mortalidade infantil atingiu o mínimo histórico no mundo, com queda de 4,9 milhões no número de crianças que morreram antes de completar cinco anos em 2022. No Brasil, a redução foi de 60% desde 2000.

Apesar do progresso, ainda há desafios históricos na assistência à gestante e ao bebê, especialmente entre populações vulneráveis, para a redução da mortalidade infantil e materna. A professora e chefe do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da FMUSP, Rossana Pulcineli Vieira Francisco, reforçou a importância do acompanhamento pré-natal para a detecção precoce de complicações.

No entanto, o exame de cardiotocografia, que avalia o bem-estar do bebê, não está disponível em todos os centros de saúde materno-fetal do Brasil, devido ao alto custo dos aparelhos e à falta de profissionais qualificados para interpretar os laudos. O Hospital das Clínicas, por meio do InovaHC, busca alternativas para enfrentar a mortalidade materna e neonatal, com o teste de um novo dispositivo portátil e baseado em IoT, que permite o rastreamento em tempo real da frequência cardíaca fetal e das contrações uterinas.

A plataforma, desenvolvida pela companhia japonesa Melody, será testada e adaptada à realidade do SUS. No Brasil, o projeto ganhou o nome de VITAL, remetendo à vitalidade fetal e à importância da iniciativa para a vida e o cuidado estruturado do SUS. O projeto pretende ainda desenvolver um modelo de inteligência artificial para dar suporte médico na análise dos laudos.

Yhuko Ogata , CCO da Melody, destacou que a plataforma vestível iCTG redefine os cuidados perinatais ao permitir o monitoramento remoto em tempo real da saúde materna e fetal. “Em parceria com o BID Lab e o InovaHC, temos orgulho de trazer para o Brasil uma tecnologia já comprovada em 17 países. Ao aprimorar a tomada de decisões clínicas, o iCTG contribui para partos mais seguros e resultados mais informados para mães e bebês em todos os lugares”, explicou.

A professora Rossana Francisco complementa: “Nosso objetivo é fornecer uma solução econômica de telessaúde, permitindo que exames de cardiotocografia sejam realizados remotamente em unidades de saúde menos complexas ou com poucos recursos, com interpretação feita por profissionais qualificados à distância. Essa solução qualifica a atenção à saúde das gestantes e pode apoiar políticas e protocolos no Brasil, especialmente em vazios assistenciais, reduzindo óbitos fetais e partos prematuros.”


Sobre o InovaHC

O InovaHC é o agente de inovação tecnológica do Hospital das Clínicas da FMUSP, cuja missão é viabilizar soluções e negócios inovadores que atendam demandas de saúde, promovendo cultura de empreendedorismo e inovação, mapeamento de desafios, codesenvolvimento e validação de tecnologias em saúde, e conexão entre atores do ecossistema de inovação. A partir de uma estratégia de open innovation, o modelo de negócio do InovaHC contempla três programas de apoio à inovação: In.spire (mapeamento de desafios), In.cube (incubação de ideias) e In.pulse (aceleração de negócios). Além disso, possui projetos estruturantes como o OpenCare 5G e o programa de Saúde Digital do HCFMUSP, e parcerias para desenvolvimento de novas soluções e negócios com startups e empresas.


Sobre o BID

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) dedica-se a melhorar a vida na América Latina e no Caribe, trabalhando com o setor público para viabilizar soluções inovadoras e impactantes para o desenvolvimento sustentável e inclusivo. O BID alavanca financiamento, conhecimento técnico e conexões para promover crescimento e bem-estar em 26 países. www.iadb.org/en.


Sobre o BID Lab

BID Lab é o braço de inovação e venture capital do BID, focado em impulsionar inclusão social, ação ambiental e produtividade na América Latina e Caribe, apoiando empreendimentos em estágio inicial, desenvolvimento de tecnologias, ativação de mercados e dinamização de setores. www.bidlab.org.

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